05 Março 2019
“A oposição não era entre os judeus e Jesus, mas sim entre os romanos e Jesus.”
O comentário é da antropóloga italiana Adriana Destro e do biblista e historiador italiano Mauro Pesce, ambos professores da Universidade de Bolonha, em artigo publicado no caderno La Lettura, do jornal Corriere della Sera, 03-03-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Uma nova contribuição para a demolição do antissemitismo que cerca a história da morte de Jesus vem de uma pesquisa sobre aqueles que se preocuparam em depô-lo da cruz e enterrá-lo. Ela mostra que o Sinédrio de Jerusalém não teve uma atitude hostil em relação ao cadáver de Jesus.
A crucificação era um sistema de execução capital ao qual eram submetidos aqueles que – como Jesus – não eram cidadãos romanos. Segundo a práxis romana, os crucificados não deviam ser enterrados, mas permanecer na cruz. Eles morriam por sufocamento e eram devorados pelos animais.
As autoridades judaicas de Jerusalém, ao contrário, exigiam que fosse respeitada a lei bíblica segundo a qual o cadáver de um crucificado devia ser enterrado antes da noite. Assim, em Jerusalém, os romanos concediam que o Sinédrio enterrasse os crucificados rapidamente.
A essa tarefa, dedicava-se um grupo de funcionários, equipado com os instrumentos necessários para separar os corpos das cruzes e para transportá-los para as fossas. O Evangelho de João conta que os chefes dos judeus se esforçaram para enterrar Jesus e os outros crucificados a tempo. Querendo ter a certeza de que os condenados morreriam antes da noite, pediram aos romanos que quebrassem as suas pernas para acelerar a sua morte. O Evangelho de Marcos afirma que quem sepultou Jesus foi José de Arimateia, membro do Sinédrio, que simpatizava com Jesus. No entanto, é inverossímil que José sozinho conseguiu separar Jesus da cruz e enterrar o cadáver.
Na realidade, o mesmo Evangelho de Marcos, em outra passagem, diz que quem enterrou Jesus foram várias pessoas, não um único homem. Os Atos dos Apóstolos afirmam que quem separou Jesus da cruz e o enterrou foram os líderes religiosos. A notícia de que foi o Sinédrio que se preocupou com a sepultura circulara por muito tempo, e isso explica porque o Evangelho de Marcos a atribui isso a um membro do Sinédrio. Só o Sinédrio, e não uma pessoa qualquer, podia obter de Pilatos a permissão para enterrar os crucificados.
Portanto, os Evangelhos nos deixaram um rastro evidente e precioso sobre como os fatos ocorreram: foram os próprios judeus que se preocuparam em dar uma sepultura a Jesus. A descoberta ajuda a superar o antijudaísmo que dominou as nossas culturas. A oposição não era entre os judeus e Jesus, mas sim entre os romanos e Jesus.
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Xeque-mate ao antissemitismo: o Sinédrio enterrou Jesus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU